Por Adriana Rosa, Amanda Pucci, Ana Sara Souza, Beatriz Cutrim, Caroline Freitas, Flávio Guimarães, Kathellen Gomes e Marcela Joaquim
A revista semanal editada pelo Grupo Abril publicou, em fevereiro de 2016, um texto que procurava responder a essa difícil questão. No decorrer do conteúdo, ela diz: “parecia de direita aos olhos da esquerda, esquerdista para os leitores de direita, moderada para os radicais e radical demais na avaliação dos moderados”. Opiniões contraditórias por parte dos leitores. No entanto, ao final da reportagem, a revista esclarece que nunca houve e não há posicionamento por conta deles. A pergunta permanece: qual a importância de um veículo demonstrar ou não um posicionamento?
Atualmente, as informações da mídia têm vindo, grosso modo, de dois modelos jornalísticos: os veículos tradicionais, como por exemplo a Revista Veja, Rede Globo, Folha de S. Paulo e Estadão, e também dos veículos de mídia independente, conhecidos como Ponte Jornalismo, Mídia Ninja, Nexo e outros. O que difere os modelos jornalísticos é a questão do posicionamento. A tradicional declara em seus editoriais que não há posicionamento, enquanto que a parte dos independentes deixa isso claro para seus leitores.
No entanto, deixando claro ou não, a questão é que ambos os tipos assumem as consequências disso, como no caso da mídia hegemônica. “A grande mídia vive uma crise de credibilidade. Isso está acontecendo porque eles estão brados contra as fakes news, mas são elas mesmas que produzem este tipo de conteúdo”, explica o pesquisador e jornalista Marcelo de Mattos Salgado. O fato desses veículos serem comandados por um determinado público também contribui para a falta de credibilidade em relação a uma parte da sociedade.
Como consequência disso, a mídia tradicional abre espaço para o jornalismo independente. Um modelo que quer dar voz a um público que não é ouvido. “O jornalismo alternativo se estabelece por uma razão muito específica, para defender os interesses de uma parcela da população que não se vê representada pela grande mídia”, diz a jornalista Mayara Lobato, que complementa: por conta disso, a mídia independente acaba optando por um posicionamento. “É inevitável que eles assumam um viés político e que isso tenha uma característica política muito forte”, diz.
Um dos fatores que faz esse modelo ganhar força é a produção de conteúdo que se assemelham as opiniões do público. “Os leitores costumam procurar mídias que confirmem suas visões de mundo e os deixem confortáveis, mas o lado perigoso desta situação é que há a tendência de formação de bolhas política e ideologicamente homogênea”, conta Marcelo.
Mas afinal, o posicionamento interfere no conteúdo jornalístico? Para Patrícia, há interferência na hora de produzir o material. “Considerando que todos os veículos jornalísticos sempre têm um interesse político e econômico aos quais eles estão ligados, eu não acredito na existência de um jornalismo imparcial. Nenhum momento da história nós tivemos’’, diz a jornalista. “Pela característica humana da produção jornalística, sempre vai existir a escolha de um lado, vai ter um aspecto subjetivo. Por mais que a gente ouça todos os aspectos envolvidos na notícia, acho que sempre tem um elemento subjetivo pela característica humana”, complementa Mayara.
No entanto, apesar desse lado subjetivo influenciar no conteúdo jornalístico, Marcelo argumenta que não é necessário a mídia se posicionar. “Acredito que nenhum veículo de comunicação, tanto independente quanto tradicional, precisa necessariamente seguir viés político. Na verdade, eles não têm esta obrigação”, diz. Mas ressalta que assumir o posicionamento é uma maneira de ser transparente com o público. “O indivíduo que procura esses produtores de conteúdos já pode saber, portanto, que estão a absorver material de inclinação A ou B”, explica.
O conteúdo independente da Ponte Jornalismo é considerado por seus leitores um veículo de esquerda, por conta do seu posicionamento em defender pautas sobre direitos humanos e por dar voz as vítimas que não são ouvidas nos grandes veículos. “Fizemos um acordo, nós fundadores, de que defenderíamos os direitos humanos. Isso é um ideal de origem liberal, mas que há identificação automática com a esquerda. No entanto, se o ponto de vista é mais liberal ou mais para a esquerda, não interessa tanto para a gente”, explica Fausto Salvadori, um dos fundadores da Ponte Jornalismo.
Sobre o posicionamento da Ponte, Fausto revela que o assunto gerou um embate no grupo.
Já para a mídia tradicional, o veiculo deve ou não deixar em evidência o seu posicionamento politico para o leitor? O repórter Kaique Dalapola, que trabalha há cerca de três anos no Portal R7 (Grupo Record), conta “creio que os veículos não tenham essa obrigação. Acredito que não precisa, necessariamente, que essa posição seja falada explicitamente para o leitor.”
Porém, o repórter considera que é um importante passo no desenvolvimento da noticia transmitir transparência, sendo esses conteúdos políticos ou não, assim, o leitor consegue distinguir quais convicções foram sustentadas pelo produtor daquela informação. Kaique pressupõe que toda mídia, independe ou não possui um posicionamento e essas posições acabam refletindo nas ideias centrais do veículo. Mas se para o repórter do R7, todo veiculo possui uma posição, é possível que as informações contidas em seus meios digitais ou impressos possam de alguma forma induzir os leitores dessas mídias a seguir o mesmo viés ideológico?
Kaique Dalapola acredita que não influencia. Para ele, quando os veículos tomam uma postura de defesa, como em política, o leitor já faz a análise do conteúdo da reportagem e conclui que o veículo em questão está ao lado de algo.
O editor do Jornal Metro, Luiz Rivoiro acredita que toda mídia precisa ter um posicionamento político, não necessariamente partidário, ele diz que, “quando a mídia se torna crítica ao governo, independente de quem esteja no poder, ela precisa ter um posicionamento”. Para Luiz, quanto mais claro e honesto você for para o seu leitor é melhor. “A linha editorial da maioria dos veículos de comunicação no Brasil destoa do mundo a fora, como na Inglaterra e nos Estados Unidos, onde os jornais dizem publicamente qual candidato eles apoiam em determinadas eleições”, completa ele.
As pessoas possuem hábitos de leitura diversificados, sendo que os veículos escolhidos para acompanhar as notícias vão coincidir com os interesses e gostos específicos de cada indivíduo. Pensando nisso, leitores dos sites Mídia Ninja, Nexo Jornal e Ponte Jornalismo foram ouvidos para entender o que os motiva a seguir estas mídias e se os posicionamentos políticos declarados ou não têm influência nas decisões.
Vivian Delfino Motta, seguidora do Mídia Ninja, contou que se considera de esquerda e reconhece que este veículo segue mesmo posicionamento político “Em geral, eu concordo com o posicionamento do que o Mídia Ninja pública”, comentou. Porém, ao ser questionada a respeito dos motivos para se identificar com perfis específicos, afirmou não ser apenas por pensamentos políticos similares. “Sou de esquerda, mas não acompanho o Mídia Ninja por isso. Acompanho porque eles fazem um jornalismo com uma ótica diferenciada da grande mídia, que prioriza as minorias”. Vivian mencionou ainda que costuma acompanhar canais como Agência Pública.
No entanto, ela acredita que, para se manter totalmente informada, é necessário dar atenção não apenas aos jornais independentes, mas também a outras mídias com maior circulação. Por isso costuma ainda acessar diariamente o site da Folha de S. Paulo. Há leitores que não concordam completamente com o posicionamento das mídias, mas continuam acompanhando seu trabalho. Como é o caso de Marcelo Dias, seguidor da Ponte Jornalismo nas redes sociais. Ele afirma que não se enquadra em rótulos, ou seja, não se considera de esquerda ou direita, mas acredita que a esquerda tem como característica a luta pelos direitos humanos e igualdade.
Tais pensamentos destacados pelo leitor são semelhantes aos da Ponte Jornalismo, mídia considerada de esquerda por ele, que tem como objetivo a luta por direitos humanos.
Por fim, há ainda uma série de veículos que não demonstram com clareza suas preferências políticas. Assim fica a cargo do público tirar suas próprias conclusões. Lucas Fidalgo, leitor do Nexo Jornal, é exemplo disso. Ele contou não conseguir afirmar com exatidão se o jornal é de esquerda ou direita, mas reconhece que determinadas publicações tendem para a esquerda, posicionamento que ele também segue.
“Não acredito em imparcialidade, mas penso que o Nexo segue uma lógica, ou seja, se baseia em dados reais para fazer um jornalismo objetivo, por esse motivo confio e acompanho o jornal”, relatou o jovem que tem em sua lista de leitura outros sites independentes como os citados Mídia Ninja, Ponte Jornalismo e Agência Pública.
Para exemplificar o assunto, convidamos alguns leitores para uma brincadeira. Foram apresentados 20 veículos e elas deveriam, segundo suas opiniões, dar uma posicionamento a eles. O resultado? Você confere no vídeo!